No dia em que te perguntavam
Se este está a ser bom
E tu incapaz de mentir
Respondes que virá dias melhores
Mesmo ciente da sorte que tens
Pois estás apenas a dar apoio
E a tua Amiga está a teu lado
Mas mais uma vez ali estamos
Que a circunstância assim o dita
E a urgência que nos une
Naquele lugar
Sendo eles e nós só mais um
Gravou no meu coração
Aqueles que mais uma vez vi
Na sua tão visível solidão familiar
Sem qualquer apoio
Despojados do seu Eu
E à mercê da humanidade
Que a cada dia que passa
Vai sendo mais escassa
Quando às vezes basta apenas
Orientar com uma simbólica ajuda
Num tom de voz amigável
"A senhora tem de ir é por ali"
Mas são em maioria os que precisam
De ajuda profissional
Este é apenas um entre tantos
Partilho um exemplo que representa
A dor
De muitos dos outros
Diferentes e tão iguais
Este senhor
Apesar de mero desconhecido
Estamos juntos na infinita contagem do tempo
Está
Ali sozinho à espera da sua vez
As rugas que lhe marcam o rosto
Na pele de cor morena e agora envelhecida
Um corpo esguio e magro
Os seus braços que para sua segurança
Estão presos e assim mal se podiam mover
A sua inquietação em movimentos
Que o destapavam uma e outra vez
A sua voz de tom melodioso
Que se fazia ouvir
Ecoava alto e repetidamente
Na confusão das suas lembranças
Uma mesma frase dita vezes sem conta
Como se estivesse a ligar à sua
Mãe
Também incansavelmente repetiu
Para que todos o ouvissem
"Quero água"
Até lhe poderem satisfazer o pedido
Depois sorveu o tão precioso líquido
Pois a sede que tinha não era confusão
Da sua mente que possivelmente
Dizem estar confusa e doente
E lá ficou e ficaram
Ao cuidado de quem se comprometeu
Em cuidar daqueles que ali vão
No constante pedido de auxilio
A azáfama desta humilde casa
O pouco que fazemos às vezes ajuda
Para que eles tenham tempo para um outro
Um gesto mínimo
E a troca reciproca de um
Obrigado
A todos estes
Admiro profundamente a coragem
De estarem ali por opção própria
Pois os dias passam
E trago em mim a dor daquele lugar
Que jamais irei esquecer